sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

4 » Linhas em mapas, arcos no ceu

Cada recurso disponível na Internet tem, algures, um suporte físico. Por exemplo, as páginas que compõem este blog residem fisicamente num servidor localizado no estado norte-americano da Califórnia.

No entanto, a Internet promove a deslocalização dos conteúdos. A abundância de banda-larga permite aceder [quase sempre] com igual velocidade a páginas que estejam fisicamente em Lisboa, ou fisicamente na Austrália. Esta situação é alimentada pelas regras do mercado - muitas vezes é mais barato alojar um web site nos Estados Unidos do que em Portugal, pelo que mais conteúdos "migram" fisicamente para outras paragens.

Toda a informação circula na rede sob a forma de pequenos pacotes de dados, auto-contidos, que viajam e se reunem para dar sentido às coisas. Seguem forçosamente os canais estabelecidos pelas grandes redes de comunicação à escala mundial. Apesar dessa restrição, a natureza distribuída do universo a que pertencem, faz com que os caminhos que seguem nem sempre sejam os mais directos, ou os mais aparentes.

A arte de que vamos falar é designada como trace routing, ou traçamento de rotas. Com as ferramentas adequadas, o mistério inerente ao percurso dos pacotes desaparece - ficamos então com linhas traçadas em mapas, ou com arcos desenhados no céu.

Em qualquer computador com acesso a uma linha de comandos e ligação à Internet, há possibilidade de obter informação textual e numérica sobre as rotas seguidas pelos pacotes de informação. Por exemplo:



Utilização do comando tracert em Windows XP, para acompanhar o percurso dos pacotes até este blog. Do ponto de vista da geo-localização, a informação retornada é, no mínimo, críptica.

Mapear o percurso dos pacotes, sobrepondo as rotas que seguem sobre a geografia do planeta é uma solução mais interessante. O mesmo percurso pode agora ser visto assim:



Percurso percorrido pelos pacotes de informação envolvidos num acesso a este blog, a partir de Lisboa. O software utilizado foi o programa NeoTrace Professional 3.25.

Dependendo do programa, do percurso, do destino e de mais uma quantidade de variáveis basicamente incontroláveis, há momentos em que o trace routing pode falhar rotundamente. Ao mesmo tempo, a geo-localização pode dar resultados erróneos, ou insuficientes. Veja-se o seguinte acesso ao web site relativo às tecnologias de acessibilidade no estado norte-americano do Alasca:



Percurso seguido pelos pacotes de dados até um web site no Alasca, com passagem por Londres e por Seattle. O programa utilizado é o VisualRoute 7.1b Professional, que para além de fazer geo-localização, apresenta muita mais informação sobre o percurso.



O mesmo percurso traçado no programa GeoBoy 1.4.7, em modo de visualização de globo terrestre (de onde os arcos no céu, a vermelho...), apenas chega a Seattle. Programas diferentes abordam o mesmo problema de mais do que uma maneira.

Dependendo do destino, alguns destes arcos podem chegar bem longe. Um acesso à Nova Zelândia (Departamento de Ciências Computacionais da Universidade de Waikato) resulta num arco a longa distância:



Um arco sobre o Oceano Pacífico para chegar à Nova Zelândia.

O invisível torna-se, mais uma vez, visível. Soluções deste género são as únicas disponíveis para percebermos até que ponto a nossa percepção das coisas é facilmente enganada. Caso contrário, quem poderia dizer que este web site, da delegação do FBI no ALasca...



...está fisicamente alojado na estrutura de armazenamento mundialmente distribuída da empresa Akamai Technologies, o que faz com que o servidor que a mostra em Portugal esteja aqui...



...numa das "quintas de servidores" da Telepac?

As distâncias desaparecem. Qualquer web site pode estar em qualquer lado. Mapear o invisível torna-se numa necessidade.

Software utilizado:

  • GeoBoy 1.4.7, da companhia NDG Software, ambos já desaparecidos do mercado há vários anos.
  • NeoTrace Professional 3.25, da companhia NeoWorx, depois adquirido pela McAfee, mas também desaparecido há vários anos.
  • VisualRoute 7.1b Professional, da companhia VisualWare, ainda no mercado e com versões mais recentes.
Esta lista não é exaustiva, embora não possa ser muito maior. Há outros programas para outros sistemas operativos, que serão abordados noutra ocasião.

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