sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

5 » O rato fora do labirinto

O projecto 9to5paintings veio mostrar como é que é possível utilizar o rato do computador para oferecer novas capacidades de visualização dos trajectos diários que percorre. Através de uma transformação física pouco complexa, o mesmo rato ligado a dois computadores permite trabalhar normalmente num deles, enquanto no outro vão surgindo vestígios gráficos dessa actividade.

A ideia pareceu-nos boa, pelo que tratámos de a reproduzir. Muito embora tivesse sido fácil criar um rato com capacidades idênticas, a verdade é que o seu desempenho se revelou muito instável. Sem colocar de lado a possibilidade de nos termos enganado, a verdade é que a idade de alguns dos computadores de teste (9 anos) e dos ratos (indeterminada, mas avançada) pode ter contribuído para a falta de sucesso.

A alternativa consistiu em criar o frankenmouse, a partir de outros dois ratos, pedaços de velcro e uma pequena peça metálica:
















Aspecto geral do frankenmouse. Os dois ratos estão unidos por pedaços de velcro. A peça metálica interliga os dois botões esquerdos, por forma a permitir que ambos sejam pressionados ao mesmo tempo.







A peça metálica que une os dois botões era originalmente a tampa de um slot de expansão. Qualquer peça serve, desde que a forma se adapte, ou que permita ser moldada. Aqui foi simplesmente olhar para o lado e pegar na primeira coisa que se nos afigurou adequada.

Uma vez ligados os ratos um ao outro, há que treinar a sua utilização. É necessário mais espaço de mesa e mais força, para deslocar o rato e pressionar os botões. Uma vez que estamos a lidar com dois meios de input independentes, há que ter cuidado para manter um mínimo de sincronia de posição entre écrans.

No espírito no projecto original (9to5paintings), a nossa primeira abordagem consistiu na uilização de software de desenho num computador, ficando o outro reservado para a realização de operações (mais ou menos) normais de processamento. O software seleccionado foi o Gimp, a correr sobre Linux, distribuição Fedora Core 3 Test 4 (a versão já é velhinha, mas é estável). Os resultados são mais ou menos parecidos com estes:















Sistema operativo: Windows XP
Software de trabalho: Microsoft Outlook 2003
Operações: consultar e arquivar mensagens de correio electrónico


















Sistema operativo: Windows XP
Software de trabalho: Explorer, aplicações do Office, visualizadores de imagens
Operações: arrumar 4 GB de dados


















Sistema operativo: Windows Vista Ultimate
Software de trabalho: vários produtos
Operações: instalação de software pós-formatação do computador
















Sistema operativo: Windows Vista Ultimate
Software de... trabalho (huuuummm): Unreal Tournament 2002 G.O.T.Y Edition
Operações: um ameno confronto de ideias entre 4 opositores humanos e 8
bots controlados por computador (tiros, fugas, explosões, metralha...), num conjunto de 6 sessões com a duração média de 4 minutos.

As ferramentas de desenho variaram para cada exemplo, tendo em vista determinar as que fornecem um impacto gráfico mais agradável.

Aspectos positivos desta abordagem:
  • O frankenmouse impressiona os visitantes;
  • O facto de ser um produto híbrido, concebido com base em ligações físicas simples, permite a sua reconfiguração rápida (o que é útil em ambientes heterógeneos, como é o caso do que aqui retratamos). É fácil deslocá-lo entre computadores.
  • Apesar da união, é possível controlar isoladamente cada um dos computadores (com um bocadinho de ginástica manual).
Aspectos negativos desta abordagem:
  • Não há mãos que cheguem para este rato. A sua largura faz com que a mão tenha que repousar sobre os dois ratos, sem tocar na base onde ele se desloca.
  • É preciso exactidão ao carregar na barra de junção dos dois botões. Usar dois ou três dedos é uma boa solução.
  • Apesar de impressionante, não deixa de constituir uma solução fisicamente tosca.
O passo seguinte consistirá em alargar um pouco o âmbito de aplicação deste equipamento. A ideia é a de deixar de utilizar apenas programas de desenho, para começar a utilizar soluções criadas explicitamente para aproveitar esta reprodução de input. É um trabalho em evolução.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

4 » Linhas em mapas, arcos no ceu

Cada recurso disponível na Internet tem, algures, um suporte físico. Por exemplo, as páginas que compõem este blog residem fisicamente num servidor localizado no estado norte-americano da Califórnia.

No entanto, a Internet promove a deslocalização dos conteúdos. A abundância de banda-larga permite aceder [quase sempre] com igual velocidade a páginas que estejam fisicamente em Lisboa, ou fisicamente na Austrália. Esta situação é alimentada pelas regras do mercado - muitas vezes é mais barato alojar um web site nos Estados Unidos do que em Portugal, pelo que mais conteúdos "migram" fisicamente para outras paragens.

Toda a informação circula na rede sob a forma de pequenos pacotes de dados, auto-contidos, que viajam e se reunem para dar sentido às coisas. Seguem forçosamente os canais estabelecidos pelas grandes redes de comunicação à escala mundial. Apesar dessa restrição, a natureza distribuída do universo a que pertencem, faz com que os caminhos que seguem nem sempre sejam os mais directos, ou os mais aparentes.

A arte de que vamos falar é designada como trace routing, ou traçamento de rotas. Com as ferramentas adequadas, o mistério inerente ao percurso dos pacotes desaparece - ficamos então com linhas traçadas em mapas, ou com arcos desenhados no céu.

Em qualquer computador com acesso a uma linha de comandos e ligação à Internet, há possibilidade de obter informação textual e numérica sobre as rotas seguidas pelos pacotes de informação. Por exemplo:



Utilização do comando tracert em Windows XP, para acompanhar o percurso dos pacotes até este blog. Do ponto de vista da geo-localização, a informação retornada é, no mínimo, críptica.

Mapear o percurso dos pacotes, sobrepondo as rotas que seguem sobre a geografia do planeta é uma solução mais interessante. O mesmo percurso pode agora ser visto assim:



Percurso percorrido pelos pacotes de informação envolvidos num acesso a este blog, a partir de Lisboa. O software utilizado foi o programa NeoTrace Professional 3.25.

Dependendo do programa, do percurso, do destino e de mais uma quantidade de variáveis basicamente incontroláveis, há momentos em que o trace routing pode falhar rotundamente. Ao mesmo tempo, a geo-localização pode dar resultados erróneos, ou insuficientes. Veja-se o seguinte acesso ao web site relativo às tecnologias de acessibilidade no estado norte-americano do Alasca:



Percurso seguido pelos pacotes de dados até um web site no Alasca, com passagem por Londres e por Seattle. O programa utilizado é o VisualRoute 7.1b Professional, que para além de fazer geo-localização, apresenta muita mais informação sobre o percurso.



O mesmo percurso traçado no programa GeoBoy 1.4.7, em modo de visualização de globo terrestre (de onde os arcos no céu, a vermelho...), apenas chega a Seattle. Programas diferentes abordam o mesmo problema de mais do que uma maneira.

Dependendo do destino, alguns destes arcos podem chegar bem longe. Um acesso à Nova Zelândia (Departamento de Ciências Computacionais da Universidade de Waikato) resulta num arco a longa distância:



Um arco sobre o Oceano Pacífico para chegar à Nova Zelândia.

O invisível torna-se, mais uma vez, visível. Soluções deste género são as únicas disponíveis para percebermos até que ponto a nossa percepção das coisas é facilmente enganada. Caso contrário, quem poderia dizer que este web site, da delegação do FBI no ALasca...



...está fisicamente alojado na estrutura de armazenamento mundialmente distribuída da empresa Akamai Technologies, o que faz com que o servidor que a mostra em Portugal esteja aqui...



...numa das "quintas de servidores" da Telepac?

As distâncias desaparecem. Qualquer web site pode estar em qualquer lado. Mapear o invisível torna-se numa necessidade.

Software utilizado:

  • GeoBoy 1.4.7, da companhia NDG Software, ambos já desaparecidos do mercado há vários anos.
  • NeoTrace Professional 3.25, da companhia NeoWorx, depois adquirido pela McAfee, mas também desaparecido há vários anos.
  • VisualRoute 7.1b Professional, da companhia VisualWare, ainda no mercado e com versões mais recentes.
Esta lista não é exaustiva, embora não possa ser muito maior. Há outros programas para outros sistemas operativos, que serão abordados noutra ocasião.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

3 » As flores que se escondem nos textos

O projecto Topic Flowers permite desenhar no écran flores coloridas, com base em segmentos de texto que sejam fornecidos pelo utilizador. Muito embora esteja orientado para a interpretação de conteúdos de língua inglesa, não deixa de ser uma interessante forma de "ler".

As imagens seguintes mostram três interpretações de três conteúdos distintos.













Imagem 1: obtida a partir de um segmento de "marketing speak" do web site da Microsoft, relativo ao lançamento do Windows Vista (para celebrar o dia). O texto utilizado foi:

From Times Square in New York City, Microsoft Chairman Bill Gates hosted the worldwide launch of Windows Vista and the 2007 Microsoft Office System. The celebration paid tribute to the millions of Microsoft customers, partners and product testers around the world who provided input and feedback on these products -- helping Microsoft transform the way people communicate, create and share content, and access information and entertainment in the new digital age.














Imagem 2: obtida a partir do primeiro parágrafo da obra Civil Disobedience do autor e filósofo norte-americano Henry David Thoreau. O texto utilizado foi o seguinte:

I HEARTILY ACCEPT the motto, — "That government is best which governs least"; and I should like to see it acted up to more rapidly and systematically. Carried out, it finally amounts to this, which also I believe, — "That government is best which governs not at all"; and when men are prepared for it, that will be the kind of government which they will have. Government is at best but an expedient; but most governments are usually, and all governments are sometimes, inexpedient. The objections which have been brought against a standing army, and they are many and weighty, and deserve to prevail, may also at last be brought against a standing government. The standing army is only an arm of the standing government. The government itself, which is only the mode which the people have chosen to execute their will, is equally liable to be abused and perverted before the people can act through it. Witness the present Mexican war, the work of comparatively a few individuals using the standing government as their tool; for, in the outset, the people would not have consented to this measure.














Imagem 3: se a linguagem de trabalho é o inglês, então utilizemos conteúdos em inglês. Só que desta vez recorremos a um autor português, Luís Vaz de Camões, e à tradução dos Lusíadas levada a cabo em 1776, por William Julius Mickle. Foi utilizado o texto das duas primeiras oitavas:


ARMS and the Heroes, who from Lisbon’s shore,
Thro’ seas where sail was never spread before,

Beyond where Ceylon lifts her spicy breast,
And waves her woods above the wat’ry waste,
With prowess more than human forc’d their way
To the fair kingdoms of the rising day:
What wars they wag’d, what seas, what dangers pass’d,
What glorious empire crown’d their toils at last,
Vent’rous I sing, on soaring pinions borne,
And all my country’s wars the song adorn;
What kings, what heroes of my native land
Thunder’d on Asia’s and on Afric’s strand:
Illustrious shades, who levell’d in the dust
The idol-temples and the shrines of lust:
And where, erewhile, foul demons were rever’d,
To Holy Faith unnumber’d altars rear’d:
Illustrious names, with deathless laurels crown’d,

While time rolls on in every clime renown’d!


Boa jardinagem!

sábado, 27 de janeiro de 2007

2 » O que se esconde num disco rígido

Estamos condicionados a olhar para os nossos discos rígidos, diskettes (para quem ainda as use), canetas e cartões de memória e ver nomes e descrições, números (tamanhos) e datas (de criação e modificação), ou a pré-visualizar o seu conteúdo. Na maior parte das vezes, estamos claramente a ver apenas árvores no meio da floresta - não temos uma visão clara da totalidade dos conteúdos com que estamos a lidar.

Em qualquer sistema operativo corrente, é fácil obter vastas listagens do conteúdo dos discos, completas com as respectivas dimensões. É menos fácil obter uma imagem clara de forma como os tamanhos das várias partes se relacionam com o todo. Felizmente que há quem pense nisso.

Dois produtos diferentes, duas abordagens distintas.

Software: SpaceMonger v1.4.0
Objectivo: Gerar uma representação visual da ocupação do espaço num disco. A dimensão dos volumes varia de acordo o espaço ocupado. A sua cor varia em função da profundidade na árvore de directorias.














O SpaceMonger a mapear o conteúdo de um disco rígido completo. A imagem foi editada - o programa mostra nomes de directorias e de ficheiros (caso caibam na área desenhada que lhes corresponde). Nos tempos que correm, nunca é demais zelar pela nossa privacidade, em todos os aspectos possíveis.

Software: SequoiaView v1.3
Objectivo: Essencialmente o mesmo que o programa anterior, embora com uma abordagem gráfica um pouco diferente, dando ao utilizador a possibilidade de seleccionar cores para identificar tipos diferentes de ficheiros.













O mesmo disco do exemplo anterior a ser representado pelo programa SequoiaView. A distribuição gráfica de volumes é diferente, com maior granularidade a ser apresentada automaticamente.

1 » O rato no labirinto

A maior parte da nossa interacção com os computadores de hoje é feita através do rato: com bolinha ou com luz, como um pino no meio do teclado ou como uma superfície pequena, escura e lisa (que põe muita gente de cabelos em pé por não responder bem). O rato traça percursos, no écran e na mesa, visíveis uns, invisíveis os outros, servindo, antes do mais, como uma metáfora de controlo: use o rato para...

O rato do computador tem vida própria (e não estamos a falar dos momentos em que a seta de um rato óptico se decide deslocar sózinha pelo écran, mesmo estando ele parado) . Ela nem sempre é aparente, porque o uso provoca a indiferença. Revela-se com o software adequado, de maneiras por vezes inesperadas.

Software: MouseHeatMap
Objectivo: gerar um "mapa de calor" dos movimentos do rato, atribuindo cores mais quentes aos pontos do écran onde o rato se demorou mais tempo.















(nesta imagem: a criação deste post e a consulta de algumas páginas web)