segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

10 » Parabéns, Ada Lovelace

Passam hoje 197 anos sobre o nascimento de Augusta Ada Byron, mais tarde Augusta Ada King, Condessa de Lovelace ou, simplesmente Ada Lovelace. Controvérsias aparte, saudemos aquela que é considerada como a autora do primeiro programa de computador (um algoritmo para o cálculo de números de Bernoulli), personagem de histórias de BD e «rainha dos computadores» numa realidade diferente da nossa.

No tempo em que os computadores ainda traziam manuais impressos e licenças com elementos de autenticidade parecidos com as notas de banco ou os cartões de crédito (impressão a talhe doce, faixas holográficas, marcas de água...), a Microsoft chegou a celebrar esta senhora, dando-lhe honras de marca de água numa das séries de manuais do Windows 95:




Parabéns, Lady Ada.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

9 » Da captação de caras e matrículas (e do receio que nos roubem a alma)

Na edição do Público de dia 4 de Agosto, foi publicada uma notícia sobre as dificuldades enfrentadas pela Google quanto à implantação alargada do seu serviço Street View (vistas de rua integradas no Google Maps e no Google Earth). O argumento apresentado pela CNPD tem a ver com a impossibilidade registada até à data em assegurar a remoção de caras e matrículas das imagens que são capturadas pelos carros que procedem à sua recolha pelo país fora.

Tenho pontos de vista algo ambíguos quanto a este assunto. Não me faz espécie que essa captura seja feita e disponibilizada da maneira que é – trata-se de uma recolha de informação feita num espaço público. Qualquer pessoa que esteja na mesma posição de um dos carros do Street View pode ver excatamente as mesmas caras e as mesmas matrículas. Mais, pode fotografá-las. E se muitas pessoas estiverem no mesmo local, a testemunhar as mesmas caras e as mesmas matrículas, a memória colectiva dessas gentes poderá reconstituir essa realidade num momento posterior.

Naturalmente, o que está em causa não é o acto de fotografar as coisas em si, pois que elas se encontram em espaço público. Fotografar e divulgar o que se fotografou (de uma forma pública e com visibilidade universal, como o faz o Google) sem autorização do próprio, pode levantar dúvidas. Fotografar, fazer a sua divulgação e guardar o que se fotografou pode ser visto como exagerado, ou abusivo.

Na realidade, não sei que tratamento é que o Google faz das imagens que capta. Matrículas e caras deveriam ser removidas por um processo automático (mas nem sempre o são). Não sei o que mais é feito – se há contagem automática de quantas pessoas surgem em cada imagem, identificação de cada matrícula através de OCR, associação entre uma pessoa e um carro ou uma casa por estarem a entrar ou sair deles, tudo isto devidamente geolocalizado, etc.

Divagações à parte, pergunto a mim próprio se a preocupação da CNPD tem apenas a ver com o facto de haver divulgação pública desta informação (caras, matrículas...), ou se também há um receio manifesto quanto à constituição de bases de dados contendo esta informação. A primeira preocupação ainda entendo, muito embora a considere como uma contenda em vão – o «buraco analógico» não se aplica apenas aos conteúdos de natureza digital, mas afecta toda a realidade à nossa volta. Se uma coisa pode ser vista ou ouvida, também pode ser reproduzida mais tarde. Não é pelo facto de se impedir o Google de apresentar uma cara ou uma matrícula que deixamos de identificar qualquer coisa no Street View (quantas vezes não identificamos pessoas pela sua silhueta ou por uma peça de roupa?).

A segunda preocupação, relativa à potencial constituição de bases de dados com recolha de dados privados, cai numa das esferas de responsabilidade da CNPD. No entanto, é aqui que levanto as minhas dúvidas. Será que a Google utiliza a informação recolhida através do Street View (e respectiva meta-informação) para constituir uma base de dados devidamente estruturada e pesquisável, referenciando caras, locais, moradas e matrículas? Não sei. Tal como não sei se as múltiplas entidades, empresas e instituições que controlam as cerca de 40 câmaras de filmar existentes ao longo da Av. da República, em Lisboa, entre o Campo Pequeno e o Saldanha, em Lisboa (já as contei), usam as imagens recolhidas para fins menos adequados. É mais fácil apontar o dedo para um projecto visivel (Street View) do que para múltiplos eventuais projectos e aproveitamentos, cuja existência não seja reconhecida.

As dúvidas e polémicas que se levantam perante a captura e divulgação de imagens (de caras e de matrículas) lembram-me as histórias que se contam sobre as reacções de povos indígenas quando confrontados com máquinas fotográficas (e com os resultados delas). O receio por eles expresso era o de as fotografias lhes poderem roubar a alma. Vejo as polémicas que rodeiam o Street View, não só em Portugal mas também noutros países e penso se não estamos a assistir a uma nova variante desse medo, igualmente infundado. Ou será que os que se preocupam com a presença da sua imagem no Street View controlam com toda a precisão a amplitude da pegada digital que deixam diariamente no mundo (esta, o mais das vezes, sem qualquer possibilidade de controlo)?

N.B.: Não defendo a falta de preocupação com a quantidade de informação privada disponibilizada online. Acho simplesmente que, num serviço como o Street View, as vantagens ultrapassam de longe os inconvenientes. No estado actual das tendências vigilantes da nossa sociedade, dificilmente conseguimos controlar todos os pontos onde a nossa cara é captada diariamente, ou onde a nossa matrícula fica registada.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

8 » Quanta informação em formatos digitais?

Esta pergunta encerra em si várias (im)possibilidades. Não pretendo fazer contagens à escala universal (há quem as faça, com maior ou menor grau de sucesso e exactidão). Pretendo, isso sim, deslocar o âmbito de aplicação para a esfera privada. Ou seja, por outras palavras, quanta informação em formatos digitais já criámos ao longo das nossas vidas?

A pergunta fica no ar. Já existem várias tentativas de resposta (trabalhos em franca progressão). Sob pena de lançar uma opinião absoluta, atrevo-me a dizer que ninguém consegue saber ao certo a quanta informação já deu origem ao longo da sua vida. Mas podem ser tentadas algumas aproximações.

Abordei esta questão com curiosidade em saber se conseguia chegar a algum lado. Não só cheguei (com cálculo de valores para um período de quase 30 anos), como também dei origem a novas questões. Arranjar formas de alimentar estas questões (QIFD [Quanta Informação em Formatos Digitais] e DDD [Dados Diários Digitais]) tornou-se num jogo, com múltiplas regras e variáveis, parte das quais dificilmente controláveis. Chamar a este âmbito «esfera privada» permite reduzir a amplitude da abordagem. Ao mesmo tempo, revela impossibilidades nos pontos mais variados. Ao conduzir um carro com Via Verde, posso estar a actuar dentro da minha esfera privada, mas não faço ideia a quantos bytes de informação dou origem de cada vez que passo numa portagem. E esses bytes escapam por completo à minha esfera privada.

Este post é mais uma acha para a minha fogueira. Constitui também o ponto de partida público para (mais) um trabalho em franca progressão.

quinta-feira, 20 de março de 2008

7 » Espaço em disco (MB x mês): 367$00

Entre 1981 e 1983 o Instituto Superior Técnico (IST) conseguiu levar a cabo um projecto de aquisição de equipamento de computação central, envolvendo montantes na ordem dos dois milhões de dólares.

O processo culminou na entrada em força de equipamento da empresa Digital Equipment Corporation (DEC ou simplesmente Digital) no panorama universitário português. No caso do IST foram adquiridos quatro computadores VAX: dois VAX 11/780 e dois VAX 11/750.

O Centro de Informática do IST (CIIST) foi institucionalizado na mesma altura, servindo como a entidade responsável pela gestão e manutenção deste equipamento.

Computadores com estas dimensões e capacidades eram colocados à disposição de comunidades mais alargadas de utilizadores: não apenas os que pertenciam à comunidade académica, mas também a outros, institucionais ou particulares.

Utilizar um computador destes custava dinheiro. Por vezes, muito dinheiro. A imagem seguinte mostra o esquema de tarifas praticado no CIIST, em 1984/85, no que diz respeito à utilização dos VAX 11/780. A terminologia e as unidades de medida deixam-nos vislumbrar um mundo de tecnologia que hoje é parcialmente arcaica.



(Detalhes deste processo no IST extraídos de Memórias das Tecnologias e dos Sistemas de Informação em Portugal, Mesa Redonda 4, A IBM e o cálculo científico em Portugal: IST e Outros)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

6 » Happy birthday!!!

Apenas uma nota rápida, depois de uma longa ausência. Há precisamente 26 anos, recebi o meu primeiro computador, um Sinclair ZX-81:



É impossível descrever, de forma rápida e concisa, tudo o que este pequeno quadrado preto me proporcionou. 26 anos depois ainda funciona. Neste momento encontra-se algures no Minho, junto de outras peças de natureza histórica, na esperança de um dia poder vir a integrar os fundos de um eventual Museu da Informática de Portugal.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

5 » O rato fora do labirinto

O projecto 9to5paintings veio mostrar como é que é possível utilizar o rato do computador para oferecer novas capacidades de visualização dos trajectos diários que percorre. Através de uma transformação física pouco complexa, o mesmo rato ligado a dois computadores permite trabalhar normalmente num deles, enquanto no outro vão surgindo vestígios gráficos dessa actividade.

A ideia pareceu-nos boa, pelo que tratámos de a reproduzir. Muito embora tivesse sido fácil criar um rato com capacidades idênticas, a verdade é que o seu desempenho se revelou muito instável. Sem colocar de lado a possibilidade de nos termos enganado, a verdade é que a idade de alguns dos computadores de teste (9 anos) e dos ratos (indeterminada, mas avançada) pode ter contribuído para a falta de sucesso.

A alternativa consistiu em criar o frankenmouse, a partir de outros dois ratos, pedaços de velcro e uma pequena peça metálica:
















Aspecto geral do frankenmouse. Os dois ratos estão unidos por pedaços de velcro. A peça metálica interliga os dois botões esquerdos, por forma a permitir que ambos sejam pressionados ao mesmo tempo.







A peça metálica que une os dois botões era originalmente a tampa de um slot de expansão. Qualquer peça serve, desde que a forma se adapte, ou que permita ser moldada. Aqui foi simplesmente olhar para o lado e pegar na primeira coisa que se nos afigurou adequada.

Uma vez ligados os ratos um ao outro, há que treinar a sua utilização. É necessário mais espaço de mesa e mais força, para deslocar o rato e pressionar os botões. Uma vez que estamos a lidar com dois meios de input independentes, há que ter cuidado para manter um mínimo de sincronia de posição entre écrans.

No espírito no projecto original (9to5paintings), a nossa primeira abordagem consistiu na uilização de software de desenho num computador, ficando o outro reservado para a realização de operações (mais ou menos) normais de processamento. O software seleccionado foi o Gimp, a correr sobre Linux, distribuição Fedora Core 3 Test 4 (a versão já é velhinha, mas é estável). Os resultados são mais ou menos parecidos com estes:















Sistema operativo: Windows XP
Software de trabalho: Microsoft Outlook 2003
Operações: consultar e arquivar mensagens de correio electrónico


















Sistema operativo: Windows XP
Software de trabalho: Explorer, aplicações do Office, visualizadores de imagens
Operações: arrumar 4 GB de dados


















Sistema operativo: Windows Vista Ultimate
Software de trabalho: vários produtos
Operações: instalação de software pós-formatação do computador
















Sistema operativo: Windows Vista Ultimate
Software de... trabalho (huuuummm): Unreal Tournament 2002 G.O.T.Y Edition
Operações: um ameno confronto de ideias entre 4 opositores humanos e 8
bots controlados por computador (tiros, fugas, explosões, metralha...), num conjunto de 6 sessões com a duração média de 4 minutos.

As ferramentas de desenho variaram para cada exemplo, tendo em vista determinar as que fornecem um impacto gráfico mais agradável.

Aspectos positivos desta abordagem:
  • O frankenmouse impressiona os visitantes;
  • O facto de ser um produto híbrido, concebido com base em ligações físicas simples, permite a sua reconfiguração rápida (o que é útil em ambientes heterógeneos, como é o caso do que aqui retratamos). É fácil deslocá-lo entre computadores.
  • Apesar da união, é possível controlar isoladamente cada um dos computadores (com um bocadinho de ginástica manual).
Aspectos negativos desta abordagem:
  • Não há mãos que cheguem para este rato. A sua largura faz com que a mão tenha que repousar sobre os dois ratos, sem tocar na base onde ele se desloca.
  • É preciso exactidão ao carregar na barra de junção dos dois botões. Usar dois ou três dedos é uma boa solução.
  • Apesar de impressionante, não deixa de constituir uma solução fisicamente tosca.
O passo seguinte consistirá em alargar um pouco o âmbito de aplicação deste equipamento. A ideia é a de deixar de utilizar apenas programas de desenho, para começar a utilizar soluções criadas explicitamente para aproveitar esta reprodução de input. É um trabalho em evolução.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

4 » Linhas em mapas, arcos no ceu

Cada recurso disponível na Internet tem, algures, um suporte físico. Por exemplo, as páginas que compõem este blog residem fisicamente num servidor localizado no estado norte-americano da Califórnia.

No entanto, a Internet promove a deslocalização dos conteúdos. A abundância de banda-larga permite aceder [quase sempre] com igual velocidade a páginas que estejam fisicamente em Lisboa, ou fisicamente na Austrália. Esta situação é alimentada pelas regras do mercado - muitas vezes é mais barato alojar um web site nos Estados Unidos do que em Portugal, pelo que mais conteúdos "migram" fisicamente para outras paragens.

Toda a informação circula na rede sob a forma de pequenos pacotes de dados, auto-contidos, que viajam e se reunem para dar sentido às coisas. Seguem forçosamente os canais estabelecidos pelas grandes redes de comunicação à escala mundial. Apesar dessa restrição, a natureza distribuída do universo a que pertencem, faz com que os caminhos que seguem nem sempre sejam os mais directos, ou os mais aparentes.

A arte de que vamos falar é designada como trace routing, ou traçamento de rotas. Com as ferramentas adequadas, o mistério inerente ao percurso dos pacotes desaparece - ficamos então com linhas traçadas em mapas, ou com arcos desenhados no céu.

Em qualquer computador com acesso a uma linha de comandos e ligação à Internet, há possibilidade de obter informação textual e numérica sobre as rotas seguidas pelos pacotes de informação. Por exemplo:



Utilização do comando tracert em Windows XP, para acompanhar o percurso dos pacotes até este blog. Do ponto de vista da geo-localização, a informação retornada é, no mínimo, críptica.

Mapear o percurso dos pacotes, sobrepondo as rotas que seguem sobre a geografia do planeta é uma solução mais interessante. O mesmo percurso pode agora ser visto assim:



Percurso percorrido pelos pacotes de informação envolvidos num acesso a este blog, a partir de Lisboa. O software utilizado foi o programa NeoTrace Professional 3.25.

Dependendo do programa, do percurso, do destino e de mais uma quantidade de variáveis basicamente incontroláveis, há momentos em que o trace routing pode falhar rotundamente. Ao mesmo tempo, a geo-localização pode dar resultados erróneos, ou insuficientes. Veja-se o seguinte acesso ao web site relativo às tecnologias de acessibilidade no estado norte-americano do Alasca:



Percurso seguido pelos pacotes de dados até um web site no Alasca, com passagem por Londres e por Seattle. O programa utilizado é o VisualRoute 7.1b Professional, que para além de fazer geo-localização, apresenta muita mais informação sobre o percurso.



O mesmo percurso traçado no programa GeoBoy 1.4.7, em modo de visualização de globo terrestre (de onde os arcos no céu, a vermelho...), apenas chega a Seattle. Programas diferentes abordam o mesmo problema de mais do que uma maneira.

Dependendo do destino, alguns destes arcos podem chegar bem longe. Um acesso à Nova Zelândia (Departamento de Ciências Computacionais da Universidade de Waikato) resulta num arco a longa distância:



Um arco sobre o Oceano Pacífico para chegar à Nova Zelândia.

O invisível torna-se, mais uma vez, visível. Soluções deste género são as únicas disponíveis para percebermos até que ponto a nossa percepção das coisas é facilmente enganada. Caso contrário, quem poderia dizer que este web site, da delegação do FBI no ALasca...



...está fisicamente alojado na estrutura de armazenamento mundialmente distribuída da empresa Akamai Technologies, o que faz com que o servidor que a mostra em Portugal esteja aqui...



...numa das "quintas de servidores" da Telepac?

As distâncias desaparecem. Qualquer web site pode estar em qualquer lado. Mapear o invisível torna-se numa necessidade.

Software utilizado:

  • GeoBoy 1.4.7, da companhia NDG Software, ambos já desaparecidos do mercado há vários anos.
  • NeoTrace Professional 3.25, da companhia NeoWorx, depois adquirido pela McAfee, mas também desaparecido há vários anos.
  • VisualRoute 7.1b Professional, da companhia VisualWare, ainda no mercado e com versões mais recentes.
Esta lista não é exaustiva, embora não possa ser muito maior. Há outros programas para outros sistemas operativos, que serão abordados noutra ocasião.